Pavilhões vandalizados, portas e janelas partidas, lixo espalhado e viaturas avariadas ilustram o atual abandono da Feira Internacional de Luanda, que ainda em 2014, em plena pujança da economia angolana, juntava 1.000 empresas de 39 países.
A crise angolana esmoreceu o interesse dos empresários em 2015 e a feira multissetorial que se realiza naquele recinto – a maior de Angola – foi mesmo cancelada por duas vezes no ano seguinte, com a promessa de a 33.ª edição da Feira Internacional de Luanda (FILDA) se realizar entre 18 e 23 de julho de 2017.
A um mês e meio da data, o Ministério da Economia anunciou esta semana ter convidado uma outra empresa angolana, a Arena Eventos, para realizar aquela feira, mas na baía de Luanda, num espaço mais pequeno e que terá menos expositores, a decorrer entre 26 e 30 de julho.
A atual situação do recinto da Feira Internacional de Luanda – que além da FILDA recebia outras feiras temáticas, da Pesca, do Ambiente ou da Construção, praticamente todas canceladas em 2016 – foi constatada pela agência Lusa numa visita guiada por alguns funcionários que ainda ali se encontram, embora não saibam muito bem para quê.
Dizem lamentar a falta de salários, em atraso há 14 meses, e de respostas do conselho de administração da empresa que gere o espaço, considerado pelas autoridades, até ao início da crise, como "a maior bolsa de negócios de Angola".
"A direção abandonou o espaço, que não tem segurança para proteger os bens e o património do Estado, então a população começou a vandalizar. É uma lástima total", contou à Lusa um dos trabalhadores, José Guimarães.
“OS CHEFES NÃO DIZEM NADA”
A Feira Internacional de Luanda é uma empresa privada com capitais públicos angolanos que organiza as várias feiras em Luanda, incluindo a FILDA. Até ao ano passado, esta feira nunca tinha deixado de se realizar, ao longo de 32 anos, mesmo durante o período da guerra civil no país.
O ano de 2016 foi a exceção, com a feira adiada para este ano, mas o recinto ao abandono indicia que ainda não será desta a retoma, até porque a economia do país também não dá mostras de recuperar.
José Guimarães é responsável pela secção de canalização do recinto há 33 anos e, além do desespero com o estado a que a feira chegou, nomeadamente os 28.000 metros quadrados de área de exposição, já não sabe como ultrapassar as dificuldades em casa, com mais de um ano de salários em atraso.
"Estamos sem salários desde abril do ano passado, sem subsídios de férias e outros bónus a que temos direito. Em 2015 a empresa começou já a pagar salários com soluços até que se arrastou para esses meses. Não sabemos quais os motivos, mas alegam falta de dinheiro, o que não corresponde à verdade", desabafou o funcionário, de 53 anos.
O atual estado de abandono, com apenas alguns funcionários da comissão sindical e agentes da polícia para proteger o pouco que restou nos seis pavilhões de exposição e outros espaços, foi igualmente descrito à Lusa por Américo Miguel, que trabalha na instituição desde 1985.
"Estamos há precisamente 14 meses sem receber. A situação é triste, lamentável e de um abandono tremendo. Um espaço que recebia anualmente visitas de altas entidades internacionais e nacionais, com vários momentos de festa, mas hoje está ao abandono, os marginais vêm aqui, saqueiam tudo, desde os cabos elétricos, a portas e janelas. Os chefes não dizem nada", lamentou.
Angola é o maior produtor de petróleo em África, atualmente com pouco mais de 1,6 milhões de barris de crude diários, mas a quebra para metade nas receitas com a exportação petrolífera, em 2015 e 2016, teve repercussões em toda a economia do país.
A falta de divisas que se seguiu também condicionou o interesse dos empresários, nomeadamente estrangeiros, que ficaram sem acesso a matéria-prima ou viram transferências de dividendos para o exterior praticamente impossibilitadas.
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